Quem viveu muito tempo em silêncio, como eu, e quase se engasgou de tanto calar, dá valor, muito valor aos espaços em que pode partilhar o que vai dentro. Não estou a falar de coisas simples, tipo conversa de café, que tenho com pessoas de quem gosto muito. Estou a falar daquelas conversas fundas que se têm com quem sabemos que nos compreende.
A palavra é mesmo compreensão. É podermos falar sabendo que do lado de lá, ao invés de vir um 'não sei se é assim' ou um 'devias era fazer isto ou aquilo' está alguém que diz 'Compreendo. O que estás a dizer é isto e faz sentido.' Ser muito inteligente ou pensar muito faz disto. É muito frequente, quando converso com alguém, dar por mim a encolher os ombros mentalmente, ao mesmo tempo que penso 'olha, mais outro que acha que sabe o que eu sinto e não ouve o que eu estou a dizer'.
Talvez por ter esta consciência tão brutal de que se contam pelos dedos de uma mão as pessoas onde consigo espelhar a minha alma, qualquer uma delas faz-me uma falta imensa e agarro-me como uma lapa a todas. Não quero perder nenhuma, todas são espaço, refúgio meu onde descanso, onde me encontro, onde me pacifico.
É tempo, agora, de mudança a este nível. Começa a desenhar-se uma nova fase onde uma destas relações vai mudar. E eu aguardo o que aí vem com calma, ainda que não saiba o que vai acontecer ao certo. Ecoa só na minha cabeça um 'tu não me vais perder'. Que me sossega.
Há amigos assim. Que valem ouro.