quarta-feira, 2 de abril de 2008

O silêncio dos homens

Sinto-me particularmente inquieta hoje. O silêncio dos homens é para mim um mistério. Segundo o livro de John Gray, 'Os homens são de Marte, as mulheres são de Vénus', os marcianos apreciam imensamente o silêncio e é nele que encontram resposta para os seus problemas. Para mim é um mistério como é que isso é possível. Eu gosto de ruminar, mas a dada altura preciso de pôr para fora. É quase uma catarse, uma purificação da alma: ao verbalizar o que sinto, parece que os sentimentos se esvaem. Pode parecer estranho, mas funciona: se estou inquieta e explico porque estou inquieta, fico mais calma; se estou deprimida e ponho na mesa as razões que me levam a isso, em pouco tempo dou por mim a sorrir.
Os homens, aí, são completamente diferentes: enfiam-se na sua caverna e lá ficam até a tempestade passar. E ainda dizem que as mulheres é que são um bicho estranho...

Cérebro e alma

Disse-me uma psicoterapeuta (que bem faz, às vezes, uma conversa com alguém que não nos conhece nem nos julga) que o pai da psicanálise (que, por acaso, não é o Freud) diz que temos dois 'mundos' em nós: o cérebro, onde se centram os nossos pensamentos, e a alma, onde estão os nossos afectos. Para ela, eu sou riquíssima nos dois.
Eu cá acho que só eu e ela sabemos isso. ;)

terça-feira, 1 de abril de 2008

Restolho

Geme o restolho, triste e solitário
A embalar a noite escura e fria
E a perder-se no olhar da ventania
Que canta ao tom do velho campanário

Geme o restolho, preso de saudade
Esquecido, enlouquecido, dominado
Escondido entre as sombras do montado
Sem forças e sem cor e sem vontade

Geme o restolho, a transpirar de chuva
Nos campos que a ceifeira mutilou
Dormindo em velhos sonhos que sonho
Na alma a mágoa enorme, intensa, aguda

Mas é preciso morrer e nascer de novo
Semear no pó e voltar a colher
Há que ser trigo, depois ser restolho
Há que penar para aprender a viver

E a vida não é existir sem mais nada
A vida não é dia sim, dia não
É feita em cada entrega alucinada
P'ra receber daquilo que aumenta o coração...

(Mafalda Veiga, Restolho)





Sempre gostei desta música... Lembra-me o silêncio de quem sofre. Mas é profundamente optimista, ao mesmo tempo. Porque traz em si a esperança de quem se entrega à vida, de quem não desiste, de quem prefere renascer a cada dia que passa...

De vassoura na mão

Resolvi refazer este blogue e começar do zero. Eliminar as teias de aranha, os pensamentos velhos, os sentimentos nefastos e abrir as portas ao sol.
Nasci a 24-04-1974 (porque será que o número 4 é o meu favorito?), em vésperas da Revolução dos Cravos e sob protesto: não queria sair da barriga da minha mãe, onde me aconcheguei até poder e fiz com que o médico se levantasse de madrugada para marcar bem a minha posição!
Apesar desta faceta de contestatária, tenho vivido grande parte da minha vida a guardar tudo para mim. No entanto, descobri há pouco tempo que às vezes é bom pôr tudo para fora. Nada fácil, quando se está habituado a não contar...
Por aqui eu diria que é mais fácil. Talvez consiga mostrar aquilo que vai cá dentro. E pode ser que, no fim, este pequenino ouriço se consiga pentear, como bem tentaram, no livro de Rudyard Kipling (Histórias assim mesmo, Ed. Caminho).

Início

Decidi hoje começar a escrever. Para mim e para quem quiser ler. Aqui tudo é de todos e não é de ninguém...