Hoje (ontem?) uma conversa com a
Princesa dos Encantos deixou-me a pensar numa outra conversa que tive há uns dias.
Já disse várias vezes que tenho uma dificuldade crónica em perceber como é que os outros me vêem. Não sei se é comum, muitos nem sequer pensarão em semelhante coisa, mas a mim faz-me confusão.
Aqui e ali vou apanhando alguns comentários. Já me disseram que sou simpática, que tenho um sorriso que ilumina a sala onde entro, que as pessoas param para me ouvir. Já me consideraram uma referência, já me disseram 'quero ser como tu'. Por outro lado, e nunca considerei isto positivo, já me descreveram como distante, misteriosa, considerando que não é fácil conhecer-me ou entender-me. Hoje, quando comentava o blog da Princesa e lhe dizia que era incapaz de ser transparente como ela, a resposta que me deu foi que escrevo de forma críptica. Sorri à palavra, por três razões.
A primeira porque implica o mistério que me atribuíram, o que significa que o que faço na vida se nota aqui no blog.
A segunda porque me lembrei de um professor de Literatura que, comparando a minha escrita com a de outra aluna, dizia que eu era transparente e ela críptica. Eu sou transparente, de facto, na transmissão de conhecimentos. Capaz de uma simplicidade e clareza totais. Mas na transmissão de sentimentos e pensamentos... Sou o oposto, pelos vistos.
A terceira por causa da conversa que tive com uma amiga que resolveu 'fazer-me a papa', como dizia. Com uma grande capacidade para integrar partes de mim que aparentemente nada têm em comum, relacionou tudo isto num bolo coerente.
Como? De uma maneira simples. Segundo ela eu sou sedutora. Só e tão simplesmente isso. Sorri à descrição, sem entender muito bem. Eu?? Sedutora?? Por alma de quem??
Mas, de facto, a explicação tem lógica. Que eu atraio, tenho noção. Não me falariam em simpatia e afins se não fosse verdade, parece-me. E à atracção junto o falar por meias palavras, que arrasta o mistério. E isto dá vontade de esgravatar por mais.
Com homens, então, este comportamento é crónico, reconheço. Não dizer tudo, obrigar a pensar é a forma que tenho de ver se, mentalmente, me acompanham o passo. 'Not fair', dirão alguns, 'assim não temos hipótese.' Eu digo, na doce arrogância de quem se sabe valiosa (já me vou valorizando): 'Têm pois. Alguns chegam cá. E normalmente sabem-no, porque não os afasto.'
'Um dom', disse ela. 'Nem toda a gente consegue seduzir, tu faze-lo de forma inata. E nem te apercebes de que o fazes.' Pois... Lá nisso tem razão...
Esta explicação teve o dom de me sossegar. Eu já vou falando, já vou mostrando e sinto-me um pouco mais confortável quando o faço. Mas sei que este raio de feitio vai estar sempre aqui. Agora entendo-o. E sinto-me bem com ele.