sexta-feira, 19 de junho de 2009

...

Hoje não estavas. E doeu ver vazia a cadeira que é tua. Habituei-me a ver-te ali sentada, habituei-me às nossas conversas, aos risos, aos espantos, às constatações, à cumplicidade. És das raríssimas pessoas que me conhece do avesso e me dá colo, pelo que é complicado não te ter por perto. Por isso doeu. E guardei para mim todas as lágrimas que me apeteceu chorar naquele preciso momento em que me apercebi que o tempo não volta atrás. Eu, no meu melhor, a não querer sentir, a recusar-me a deixar-te ir.

Só mais tarde, bem mais tarde, quando não houve forma de fugir a mim mesma, soltei o furacão. Abri cadeados, olhei-me ao espelho e soltei a dor. Chorei, chorei, chorei. Por dentro e por fora. Sozinha, enrolada, porque não me apeteceu partilhar a dor. Há poucos que entendam os laços que criámos e por hoje bastou-me que uma pessoa entendesse. O resto é para explorar cá dentro. Tenho a impressão que há aqui um caminho que não se faz de palavras de consolo. Faz-se não sei de quê que ainda não descobri. Mas faz-se. É preciso é começar a andar.













Mas dói.

12 comentários:

LBJ disse...

Sabes que não há somente uma pessoa que entende a ausência que sentes, sabes que há pessoas que estão por aqui, à distância de uma mensagem. de um telefonema, sabes e tu sabes que tens amigos que te querem muito e que sentem o teu sofrer, tu és Mulher para te levantares sozinha quando tropeças, mas podes sempre sorrir para as mãos que se estendem para ti prontas para te ajudar a levantar :)

Hedgie, um beijo

A Princesa disse...

Beijinho...

mf disse...

LBJ:
Eu sei disso tudo. Obrigada por estares aí, mesmo na minha ausência.
Beijo

mf disse...

Princesa:
Outro. Grrrrrrrrrrrrrraaaaaaaaaaaaaaaande!
;)

CB disse...

mf,
Eu acho que os caminhos nunca se fazem de palavras de consolo, mas acho que essas palavras nunca são de mais. Para nos darem força e coragem para procurar esse "não sei quê" que permite fazer o caminho. Deixo-te um abraço forte, virtual mas sentido, que é só o que posso fazer. Não gosto de te saber a chorar, a sofrer assim. Mesmo sabendo que vais andar, porque vais, claro.
Um grande beijinho

R. disse...

"Há mais quem perceba, há mais como nós" - disseste-mo há dias e eu guardo a certeza que não enganavas ambos. Razão tem o LBJ: à distância de um telefonema ou de um passeio tens um abraço e uma festa nos picos, regime 24h/24h, de toda a gente que te quer bem. Dores partilhadas desafiam a aritmética: se adicionares as partes outra vez não chegas à dor inicial. De vez é quando é bom sentirmo-nos burros na matemática.

R.

mf disse...

Princesa (des)Encantada:
Por fora, eu sempre fui 'a forte'. Sei que percebes o que quero dizer com isto. Não estou, por isso, habituada a chorar ao pé de ninguém, muito menos a ser consolada, e é-me muito difícil assumir isso como uma coisa boa (que sei que é) ou necessária (que começa a ser). Se mostrar sofrimento é um exercício complicado, pedir ajuda (e aceitá-la) é muito mais difícil. Os vícios demoram a passar e eu ainda não cheguei lá.
Mas chegarei, se Deus quiser. E chorar faz parte e é bem mais saudável do que guardar tudo cá dentro, como tenho andado todos os anos da minha vida a fazer. ;)

Abraço apertado

mf disse...

R.:
Realmente, essas contas fazem sentido. E eu sei que não enganava ambos e que tens toda a razão. Mas eu e os meus silêncios... Lá chegarei, à fase dos telefonemas e das conversas destinadas a aliviar-me as nódoas negras. Um dia, se Deus quiser. ;)

Ventania disse...

O caminho faz-se, doendo, mas sarando. E as distâncias não tiram valor nem sentimentos, antes fazem descobrir laços que não dependem da presença física. Hás-de dizer-me depois se é assim ou não. Beijinho!

catchapum pum pam disse...

A principio é simples, anda-se sózinho
passa-se nas ruas bem devagarinho
está-se bem no silêncio e no borborinho
bebe-se as certezas num copo de vinho
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Pouco a pouco o passo faz-se vagabundo
dá-se a volta ao medo, dá-se a volta ao mundo
diz-se do passado, que está moribundo
bebe-se o alento num copo sem fundo
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E é então que amigos nos oferecem leito
entra-se cansado e sai-se refeito
luta-se por tudo o que se leva a peito
bebe-se, come-se e alguém nos diz: bom proveito
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Depois vêm cansaços e o corpo fraqueja
olha-se para dentro e já pouco sobeja
pede-se o descanso, por curto que seja
apagam-se dúvidas num mar de cerveja
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

Enfim duma escolha faz-se um desafio
enfrenta-se a vida de fio a pavio
navega-se sem mar, sem vela ou navio
bebe-se a coragem até dum copo vazio
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida

E entretanto o tempo fez cinza da brasa
e outra maré cheia virá da maré vazia
nasce um novo dia e no braço outra asa
brinda-se aos amores com o vinho da casa
e vem-nos à memória uma frase batida
hoje é o primeiro dia do resto da tua vida.

mf disse...

Ventania:
Tenho para mim que terás razão. :)
Beijo

mf disse...

catchapum pum pam:
E assim se diz tudo. :)