Tenho a impressão de que, com todas as coisas que se têm passado, o meu blog vai começar a ser digno daquela rubrica da Rádio Comercial de nome ‘O meu blog dava um programa de rádio’ (acho que é assim que se chama).
Se não, vejamos. Chego Domingo à noite a uma casa sem água nem luz e carregada de tralha (como é possível que uma só pessoa tenha tanta coisa???).
2ª feira de manhã acordo para uma cozinha de bradar aos céus, que se ‘esqueceram’ de limpar. Toca, por isso, a esfregar e esfregar, que eu não gosto de porcarias e só de pensar em meter as minhas coisas dentro de gavetas e armários naquele estado já me arrepio toda. Chega a luz, depois a água e descubro, entretanto, que não tenho gás. Maravilha das maravilhas, logo me calha a mim, que detesto água fria. Mas também, como o esquentador não funcionava, não me valia de muito. A manhã passou-se assim e, à tarde, resolvi tirar férias das limpezas e marchei para o trabalho. Lá me deram um sítio, mas entretanto descobri que não tenho pc (nem sei se virei a ter) e dentro do gabinete partilhado por várias pessoas há um estrunfe de um sueco que fala por monossílabos (quando fala), não cumprimenta ninguém e se apropriou de um armário inteiro que até queria fechar a cadeado. Deve ser agente secreto ou coisa que o valha, porque não sei que raio pode ter de tão importante quando o que temos todos são livros e papéis sobre coisas que não interessam ao comum dos mortais. Entretanto, à noite, já em casa, descubro que não tenho tv, porque não sei onde raio enfiei o cabo de ligação e ainda não me vieram ligar a tv+net que pedi. Também não houve problema. Entre uma trilogia que andava para ver há muito (abençoado mano e os dvs que me emprestou) e a montagem da mesa da sala, acabei por me deitar tarde. E descobri que tenho jeito para montagem de móveis. Informo todos os que cá virão de que NÃO sobrou nenhum parafuso e a mesa não cairá. Podem ficar descansados. ;)
3ª feira, mais uma manhã de limpezas. Desta vez, aparece-me cá o agente que me arrendou a casa e levou nas lonas, como se diz na minha terra. A vantagem de termos de nos desenvencilhar sozinhos é que aprendemos a defender-nos e eu agora não me calo. Teve azar, o homem, com a inquilina que lhe calhou, porque se há coisa que estou habituada a fazer é partir do geral para o particular e esquadrinhar todos os pormenores. Obriguei-o a ir ver as paredes que lavei, as gavetas ainda por lavar e o que não funcionava como devia ser. Deve ter resultado, porque ficou aflito e combinou logo comigo hora para me virem resolver o problema do esquentador e de umas ligações meio manhosas que não quero que fiquem assim, não vá o diabo tecê-las (eu não sou electricista, mas alguma coisa percebo de fios eléctricos). Pelo meio, mais uma manhã de limpezas, à espera dos homens do gás. Que, quando chegaram, iam sendo levados pela minha vizinha de baixo, uma daquelas velhotas de bairro que passa os dias à janela e sabe de tudo o que se passa nas redondezas, a deixar-lhe as botijas em casa, ‘porque eram para ela e eu tinha dito para lá ficarem’. Sorte minha, a empresa de gás dela não é a mesma que a minha. Senão, estava bem arranjada… À tarde, nova visita ao local de trabalho e um informático que passou aqui como um raio a ligar-me o portátil ao wireless. Tão bem ou tão mal, que continua sem funcionar, mas não lhe pude dizer, porque desapareceu num ápice. Ora, como eu já começo a bufar, não lhe auguro grande sorte, quando for ter com ele daqui a bocado, se se lembrar de brincadeira idêntica. Chegada a casa, mais arrumações (não sei onde tenho nada…) e tempo de descanso. Parar para alguns telefonemas e um filme enquanto estendo as pernas, que me doem imenso.
Hoje, quando acordo, tarde e a más horas, quase me espalho na casa-de-banho (acordei logo), cheia de água. Vinda do tecto, o que significa infiltração. Já não sabia se rir ou chorar. Venho a descobrir que os vizinhos deixaram uma janela aberta e que tiveram direito a uma invasão de chuva durante a noite. E que têm uma casa giríssima, embora meia fantasmagórica, com um corrimão de ferro trabalhado, panos e mobília ao estilo árabe. E gatos, vários, pretos. Tenho a impressão de que vivo por baixo de uma casa de bruxas (onde é que eu já ouvi isto?), mas não dei com o caldeirão. Resultado da brincadeira: toca a limpar, mais uma vez. E como os planos mudaram, ainda não consegui pôr em ordem a cozinha, que continua em pantanas. Apesar de isto já começar a tocar as raias do desespero, o bom que eu tenho é que, em muitas ocasiões, quanto mais difíceis se tornam as coisas, mais eu endureço e finco o pé. Nem sempre é bom, mas às vezes dá jeito, esta coisa do ‘when the going gets tough, the tough get going’. E por isso, depois de horas de trabalho doméstico, nada como tomar um banho quente (finalmente!), pôr um vestido bonito quando tenho por hábito andar sempre de calças e sair para o trabalho. Nem mesmo o ter-me perdido no metro (coisa rara, esta, mas um indício claríssimo do meu cansaço) e ter passado três vezes pela estação de Alvalade (Pfff… Não é assim que me convencem a passar a verde, não, não…) me tiraram o ânimo. E consigo espaço para me rir ainda do facto de ter de preencher um formulário ‘com caneta preta’. Olhe lá, ó senhora… Qual é o mal de ser a azul? Não sabe que é a-p-e-n-a-s A cor?
A semana vai a meio e parece que já vivi imenso tempo aqui. Cruzes… Espero brevemente ter direito a uns dias mais sossegados…