segunda-feira, 20 de julho de 2009

Recado (XV)

A Ventania foi soprar para outras paragens. E despediu-se neste post, que eu espero sinceramente que não seja o último que leia. E, por isso, este meu post é para ti.

Há algumas pessoas com quem me identifico muito neste mundo dos blogues. Tu é uma delas. Não nos conhecemos, mas às vezes tenho a sensação que, se o experimentássemos, acabaríamos horas na conversa. E diríamos algumas vezes 'entendo-te perfeitamente'.

Nesses entendimentos eu coloco muito do que escreves no post, porque o senti e sinto várias vezes. De facto, revelarmos a alguém conhecido este recanto onde despejamos o que nos apetece pode travar-nos o passo a seguir. Seja porque podemos ser mal interpretadas, seja porque podemos sentir-nos condicionadas e evitar escrever isto ou aquilo. É por essas e por outras que eu criei um canto só meu, a que ninguém tem acesso. Raramente o uso, mas está ali para quando é preciso despejar e não me apetece que alguém me venha falar do assunto. Normalmente são as minhas dores, aquelas tão intensas ou tão insuportáveis que não as consigo chorar nem na escrita. E escolho pelos dedos as pessoas que conheço a quem vou revelando este canto. E que ficam proibidíssimas de o revelarem a quem quer que seja. Até agora têm cumprido, o que me deixa mais tranquila. Mas às vezes sinto-me condicionada. Percebo-te bem.

Também já me senti pouco compreendida com o que escrevo. Mas, nesta fase que atravesso, a opção que faço é a de não esconder coisas que há algum tempo atrás simplesmente não diria. Este é o meu espaço e nele tenho o direito de espelhar as minhas impressões. Boas e más. E, se o exercício de deixar sair o que sinto me faz bem, o de me perguntarem como ando, embora às vezes seja desconfortável para quem não está habituada a revelar coisas de si mesma no mundo 'real', acaba por ser positivo, porque me obriga a sair da toca e a esticar as patas, ao invés de permanecer enrolada. E eu preciso de aprender a mostrar o que trago dentro.

Há, a este nível, uma coisa em que somos diferentes: tudo o que escrevo sou eu e raríssimos são os textos de ficção. Este blog é um espelho em que me reflicto e de que (ainda) preciso para me compreender melhor. E para exercitar a capacidade em falar de mim, mesmo que por meias palavras, já que não é em poucos dias que retiramos de dentro de nós os poços de silêncio que construímos. Quem aqui vem não me conhece por inteiro, mas conhece muito do meu avesso.

Onde te entendo perfeitamente (e que soco foi ler este sentimento em outro alguém, porque me obrigaste ao confronto comigo mesma) é no que se sente quando revelamos este mundo a alguém que nos é próximo e sentimos que do outro lado sobra indiferença. Já me aconteceu também, mas sempre evitei pensar no assunto. É como oferecer um presente que é deixado num canto, abandonado. Quando o presente somos nós, este 'abandono' terá de querer dizer alguma coisa, não? E não gosto de pensar numa coisa que me pode obrigar a rever algumas pessoas na minha vida...

Continua a escrever, sim, minha querida. Onde quiseres. Num blog, numa folha de papel, até no vento. Mas continua. Porque tu escreves com alma e isso sente-se, independentemente de nos conhecermos ou não. Eu cá espero ter o faro necessário para te cheirar por aí. Porque este Ouriço não gosta de dispensar quem lhe mostra que há mais iguais por aí...


4 comentários:

R. disse...

A pi(s)cadela estava a ficar tão grande, tão grande... que resultou num post. Deve ter sido fermento a mais. Comentário aqui:

http://o-gato-do-castelo.blogspot.com/2009/07/citacoes.html

Ventania disse...

Sabes que me comoveste, não sabes? Estou, ainda, horas depois de ter lido o teu post pela 1ª vez, perfeitamente embasbacada e sem palavras. É muito bom saber que há iguais por aí, e é muito bom descobrir em pessoas (reais, por detrás das cortinas virtuais) empatias e carinhos genuínos, como estes. :) Tenho a certeza que nos vamos continuar a entender, que eu também não abdico daqueles de quem gosto. E de ti, gosto!

Muito, muito obrigada. Do fundo do coração. Um beijo grande!

mf disse...

R.:
Vou ver. ;)

mf disse...

Ventania:
Abraço apertado. De Ouriço que não pica. :)