Tenho tido a nítida sensação que estou a resvalar devagarinho de volta ao poço que tão bem conheço, o que me faz pensar que há dinâmicas que, por mais que tentemos mudar, se entranham de tal forma na pele que é extraordinariamente difícil, senão impossível, modificá-las. Uma delas é esta forma como me pinto, como me revejo, como me sei por dentro e sinto que não me (re)conhecem por fora.
Quem não me conhece chama-me misteriosa, mas quem me conhece chama-me transparente. Talvez por isso, é por trás de óculos escuros que guardo os meus olhos dos olhares alheios: tenho a sensação que os desconhecidos com quem me cruzo conseguem adivinhar a enorme tristeza indizível que me tem vindo a assolar. A tristeza de quem não está a conseguir acreditar que é capaz de se unificar e que um dia viverá uma espécie de paz.
Nelly Furtado - All good things