domingo, 15 de novembro de 2009

...

A minha mãe disse-me ontem que, há uns dias, e a propósito de umas formações em que me tenho envolvido, lhe tinham dado os parabéns por esta filha que tem. Guardei, como sempre guardo, estas palavras de orgulho da minha mãe, mas volto a pensar que aquilo que eu sei e aquilo que eu sinto são coisas diferentes.

Tenho tido a nítida sensação que estou a resvalar devagarinho de volta ao poço que tão bem conheço, o que me faz pensar que há dinâmicas que, por mais que tentemos mudar, se entranham de tal forma na pele que é extraordinariamente difícil, senão impossível, modificá-las. Uma delas é esta forma como me pinto, como me revejo, como me sei por dentro e sinto que não me (re)conhecem por fora.

Quem não me conhece chama-me misteriosa, mas quem me conhece chama-me transparente. Talvez por isso, é por trás de óculos escuros que guardo os meus olhos dos olhares alheios: tenho a sensação que os desconhecidos com quem me cruzo conseguem adivinhar a enorme tristeza indizível que me tem vindo a assolar. A tristeza de quem não está a conseguir acreditar que é capaz de se unificar e que um dia viverá uma espécie de paz.


Nelly Furtado - All good things