sábado, 27 de dezembro de 2008

Para R.

Eu não gosto que ninguém vá daqui insatisfeito. E gosto de desafios. Por essa razão, R., este ensaio de conto é para ti. :)

Acordou estremunhada. Um toque na janela, depois outro, e ainda outro fê-la levantar, olhando para o despertador. Com precaução, espreitou. Lá em baixo, meio iluminado por um candeeiro, viu um sorriso. 'Desce!' 'Sabes que horas são????' 'São horas de desceres! Despacha-te, que não temos muito tempo!'
Vestindo rapidamente umas calças e uma camisola quente, desceu as escadas, agarrou as chaves e a carteira, enfiou um casaco e um gorro pelos caracóis escuros abaixo e saiu. Na rua deserta e branca de neve, uma mão fria agarrou a dela e conduziu-a até ao automóvel.
'Onde vamos?' 'Já vais ver.'
O automóvel avançou pela cidade. Lentamente, as luzes tornaram-se mortiças e vagas. Dirigiam-se para o campo. Um olhar de interrogação escondia-se por detrás da curiosidade de quem não sabe o que esperar. Na cara dele, atenta à estrada, brincava um sorriso que lhe suavizava os traços.
Por fim, pararam e saíram. Mochila ao ombro: 'Anda!'
No início de crepúsculo, divisavam-se apenas as árvores esguias que pareciam aguardar por ordens. De mão dada, avançaram por um caminho escuro que serpenteava por entre ramos fantasmagóricos carregadinhos de neve imaculada. Por fim, pararam.
Um olhar, novo sorriso. 'Achas que te deixava ir embora sem te mostrar a maior beleza da minha terra?' Fixou-o, sem entender. Um último puxão levou-a a avançar pela última fileira de árvores. Um manto branco, pontilhado de rochas aqui e ali, descia até um tapete de gelo. Um lago abria-se à vista, imenso, silencioso. Sem árvores à frente dos olhos, avistava-se apenas o horizonte, onde despontava um início de luz.
Deslumbrada, ali ficou, a observar. Até o pressentir a sentar-se numa rocha e a abrir a mochila. Curiosa, aproximou-se. Acabou sentada na moldura dos seus braços, com uma máquina fotográfica nas mãos. 'Agora é aguardar. No momento certo, saberás o que vais levar daqui.'
Ficaram em silêncio, a admirar os tons que começavam a dançar no horizonte. Lentamente, o céu abriu-se às luzes da manhã, numa toada de cores que hipnotizava. Um, dois, três cliques. Depois a máquina foi esquecida, superada pelo registo dos olhos que abarcavam a imensidão.
Quando o sol começou a despontar, o rosto virou-se de lado: 'Lindo...' Novo sorriso: 'Quem te disse que acabou?'
A mão puxou a mochila e dela saíram, imaculados, dois pares de patins. 'Uma dança?' Um sorriso brincou-lhe nos lábios, emoldurados por um nariz gelado. 'Eu não sei patinar!' 'Eu sou um excelente professor...'
Patins colocados, mãos dadas. À beirinha do lago, antes das lâminas pisarem o gelo, uma mão enlaçou-a. 'Feliz 2009, R...'

4 comentários:

Anónimo disse...

Adivinhaste-me o cabelo escuro... encaracolado.

Adivinhaste a minha paixão pelos momentos suspensos, guardados.

Adivinhaste o mais profundo do meu ser.

Por isso a lágrima correu, livre, rebelde e desatinada. E trouxe consigo muitas mais.

Por isso o coração sorriu, porque quem sabe o conto não será real...

Quem sabe...

R.

mf disse...

R.:
Ainda bem que gostaste, minha querida. E um dia, quem sabe, será real, sim...
:)

Jane Doe disse...

Where everything begun!

Big kiss.

mf disse...

Memories are so good, aren't they?

Hug. One, two, three, many... :)