Independentemente das dores e das mazelas, e por mais que a crise produza descrença e cepticismo e muitos observem apenas o consumismo desenfreado desta época, o Natal é, para mim, um tempo de alegria interior. Talvez porque, na minha infância, era mágico.
Até perder os meus avós maternos, a consoada era sempre passada em casa deles. E, depois da ceia de Natal, começava a febre.
Ali, ninguém abria prendas a seguir. A pequenada (éramos, pelo menos, uma mão cheia), na qual eu me incluía, ia para a cama cedo, sob pena de o Menino Jesus (ainda não se falava no Pai Natal) não trazer nada a ninguém. Um par de sapatos era deixado na cozinha e ala! Subir as escadas, vestir o pijama e toca a dormir! Como é óbvio, a excitação era tanta que ninguém pregava olho. E lá vinham os meus pais ou tios ralhar que assim não havia nada para ninguém. Invariavelmente o sono vencia-nos. Sei disto porque, madrugada avançada, acordava repentinamente, com uma luz a acender e uma voz a dizer 'Já chegou o Menino Jesus!'
Imaginarão, com certeza, a cena: cobertores pelo ar, chinelos esquecidos, risos, tudo a correr pelas escadas abaixo. E, na cozinha, ao pé da chaminé, o deslumbre: duas ou três filas de sapatos alinhadinhos e cobertos com prendas. Cada um procurava os seus e agarrava nas prendas. Mas não as abria. Dividíamos entre nós os presentes e os sapatos dos meus avós e íamos para o quarto deles. Ali, sentados na cama ou no chão à volta dela, finalmente desvendávamos os segredos que eram nossos.
A festa continuava no dia 25. Porque nos reuníamos 50 ou 60 pessoas à volta da mesma mesa. Só primos, éramos quase 30 (acho que já somos 30, perdi-lhe a conta). Estávamos juntos até à noite. Era um dia feito de brincadeira pegada, de traquinices, de doces, de abraços, de mais prendas.
Era bom. Muito bom. E sempre que volto a essas noites dou por mim a sorrir. Vejo no rosto da Marta e da Luísa a mesma excitação, porque a minha irmã segue a tradição. E o Natal, independentemente de dias melhores ou piores, é e será sempre feito de luz, de sorrisos, de esperança...
Para vocês, um feliz Natal...
SANTO ANTÓNIO ou O AMOR SECRETAMENTE PEDIDO
Há 5 meses
6 comentários:
Feliz Natal minha querida.
Também para ti, John. Que seja tranquilo... :)
Eu compreendo porque é que o Natal é importante para muitos, o que não compreendo é que tenham dificuldade em aceitar que nao seja importante para toda a gente.
Hoje foi uma noite como muitas outras, estive com amigos que como eu não dão importância ao Natal. No entanto assim que alguns fanáticos natalícios souberam falaram em "pena". Pena? Mas o Natal é para passar com as pessoas que mais gostamos ou não? Eu passei-o como amigos que estiveram lá porque queriam estar, muitos dos fanáticos de Natal, passaram com familiares que só se juntam (contrariados) por ser natal...
Crest©:
Sabes, eu preocupo-me apenas com o que o Natal significa para mim e mais nada. Já não és o primeiro, hoje, que me diz que passou o Natal com amigos. Quando mo disseram, ao desejar-me boas festas, a minha reacção não foi de pena. Pensei apenas 'Há maneiras mesmo engraçadas de viver o Natal... Espero que se esteja a divertir!' Porque, para mim, o Natal é, sobretudo, um tempo para se estar bem.
Estás bem com os teus amigos que não dão importância ao Natal? Óptimo! É preferível isso a familiares contrariados, estás correcto. Foi uma das razões por que os meus pais passaram a vivê-lo só connosco, os filhos e netas, depois dos meus avós falecerem. E muito bem, em meu entender, que não faz sentido de outra forma. Não é por isso que o meu Natal perdeu o significado: continuo a partilhá-lo com aqueles que amo e por isso sabe-me bem.
Os fanáticos? Há-os em todo o lado. Tudo o que é diferente é motivo para apontar o dedo, para lançar um olhar de comiseração, para abanar a cabeça. São felizes no galinheiro (quem tem pena é galinha, como sabes) e não vêem para além dele. São aquele grupo de pessoas que raramente se modificam porque não conseguem ver para além do seu mundo de ideias pré-concebidas. Vais levar sempre com eles, porque tens vistas mais largas...
Eu não sou fanática, meu caro, e, por isso, desejo que estes dias de festa sejam aquilo que tu quiseres que sejam! Só assim faz sentido o Natal... :)
O Natal é todos os dias.
Gostei das tuas memórias!
:)
Um Natal assim, como os que descreveste, é muito bom mas este ano, no final do dia, doiam-me as pernas de tanta azáfama! Mas a recordação é excelente e sentir que os que amamos estão bem compensa, sem dúvida. :)
Beijinho.
p.s.- Eu tinha deixado aqui um comment mas não ficou... A ver se é desta! (florlotusm@gmail.com)
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