quarta-feira, 12 de agosto de 2009

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Hoje fui andar na praia. Estava a precisar, já há algum tempo, de uns momentos só meus e, por isso, andei, andei, andei, até onde a praia curva. Parei quando as pernas exigiram descanso, numa zona de areal quase livre de gente. Bom, o sossego. Eu, o vento, o mar. O sol a começar a pôr-se. Ali fiquei, a ordenar pensamentos. Ou melhor, a deixar que fluíssem sem regra, sem limites ditados por conversas ou interrupções. Deixei-me apenas levar.

Quando o frio aumentou, levantei-me para regressar. E foi aí, e só aí, que senti uma coisa que há muito tempo não sentia. Antigamente, lembro-me de imaginar a minha cara-metade e de pensar que dormia debaixo do mesmo céu. Estranhamente, o longe e o desconhecido faziam-se perto, devolvendo-me o futuro. E sentia-o perto de mim. Hoje foi só sensação, sem tempo para imaginar. Quando me levantei, pensei apenas que gostaria de o ter ali ao pé de mim, a olhar para aquela calmaria, em silêncio, tranquilo e forte. Por uns escassíssimos segundos, senti-o ali, atrás de mim, a partilhar exactamente o que via. E teria dado tudo por uns braços a envolverem-me…
Escassíssimos segundos, esses. Breve, breve, se esvaíram e deixei-me sentir a dor tranquila de quem sabe o que não tem. Também apenas por uns segundos, porque não me apeteceu sentir aquilo. Recusei a mim mesma a espiral de tristeza. Também não podia, não ali, onde me perguntariam o que se passara. E eu, como sempre, há coisas que guardo só para mim.

Só mais tarde, quando a água do chuveiro (‘Ó tia, poque é qu’o chuveio se chama chuveio?’) se confundiu com a água dos meus olhos, dei vazão ao aperto que sentia dentro. E deixei-me ali ficar, até sentir que a água diminuía a angústia.

Tenho dormido mal, de há dois dias para cá. Tenho a impressão que as minhas férias estão a terminar. Nos próximos dias, vou andar em grande azáfama, a preparar a minha vida. Esta que tenho, sempre indefinida, sempre a prazo, em todas as suas vertentes, pessoal ou profissional. Já me sabia bem ter sossego em algum dos seus campos. Nunca gostei de túneis e tenho a sensação que viajo há demasiado tempo num que não tem nenhuma luz ao fundo.

Sabia-me bem ter uma mão ao lado que me ajudasse a organizar. Precisava agora daquela mão. Precisava que se sentasse ao meu lado a traçar um plano, a ordenar o que a minha cabeça desordenada sabe que tem de fazer, mas não consegue combinar. Ou que apenas olhasse para mim e dissesse ‘Vai tudo correr bem. Porque eu estou aqui. E sempre estarei.’