sábado, 22 de agosto de 2009

Dos planos ou Da importância da educação ou De como o melhor do mundo serão sempre (mas mesmo sempre) as crianças

Esta coisa de termos de nos bastar a nós próprios tem muito que se lhe diga. Pondo de lado a questão dos amores e da necessidade de encontrarmos alguém que nos entenda o olhar, as questões práticas do dia-a-dia são, na minha opinião, bem mais fáceis de levar se partilhadas a dois. O mesmo acontece com as questões financeiras.

As situações de abandono e solidão tocam-me muito e, por isso, uma das coisas que mais me preocupa, neste caminho que vou fazendo sozinha, é a necessidade de ter cuidado com os gastos. Num mundo em crise, e apesar de saber que tenho mãos que me ajudem, se precisar, não consigo deixar de me preocupar com o futuro e com a necessidade de zelar para que um dia não passe dificuldades. Independentemente do que vier e porque, se calhar, não vamos ter direito a nenhum tipo de reforma (para lá caminhamos, estou convicta).

Os meus pais tiveram a sorte de terem empregos bons e estáveis. De facto, e apesar de ser profissional liberal, o meu pai não sofreu muito com 'concorrências' (no tempo dele, uma licenciatura era uma gigantesca mais-valia). A minha mãe, por seu lado, cedo ficou colocada de forma definitiva e teve emprego até à aposentação. Isto significa, para muitos casais com a cabeça no sítio, uma vida desafogada e luxos de alguma espécie. Mas a filosofia dos meus pais foi ligeiramente diferente. Ao invés de várias coisas, escolheram vários filhos. O que, em última análise, significa que não há grandes bens físicos ou monetários para herdar. A nossa herança, como diz o meu pai, é o curso que todos tirámos. E, eu acrescentaria, a família que somos.

De facto, vários filhos implica muita despesa, sobretudo a nível escolar, pelo que não sobra muito para outras coisas. Assim sendo, partilhar, fazer passar roupas de um para outro, 'reciclar' livros da escola, etc. sempre fizeram parte do meu quotidiano. Todos aprendemos a usar com parcimónia o dinheiro, todos aprendemos a ajudar. Aliás, a primeira memória de 'planeamento financeiro' que tenho é a de uma reunião familiar (teria eu uns dez anitos?) em que, também numa época de crise, os meus pais se sentaram connosco a explicar que precisavam de levantar as nossas poupanças para conseguirem comprar um apartamento. É óbvio que não necessitavam de nos dizer nada nem de nos 'dar contas', mas nunca mais me esqueci deste episódio. Talvez porque me senti respeitada, naquela altura, independentemente da idade que tinha.

Com coisas como esta, posso dizer que, hoje, todos nós temos a noção dos limites que podemos atingir. Sabemos gerir o nosso dinheiro, não abusamos da sorte. Contudo, estes anos de vida complicada, a esse nível, deixam algumas marcas. A mim, deixaram-me a noção clara de que é imprescindível acautelar o futuro. A ida para Lisboa vai-me proporcionar alguns anos de estabilidade, o que já é muito bom. Poder descansar um pouco a cabeça, a nível de preocupações deste tipo, sabe a oásis. Mas sei bem que não posso baixar a guarda.

Tudo isto para dizer que, apesar dos cuidados, eu acho que agora posso partilhar alguma coisa do que tenho. E por isso dei o pontapé de saída num novo projecto de amor. Daqueles que sempre tive vontade de concretizar e que brevemente, espero, vai tomar uma forma mais concreta. Foi hoje.




PS - Desculpa lá, Apple, mas desta feita eu tinha que te roubar o estilo dos teus fabulosos títulos... :)

8 comentários:

Jane Doe disse...

:D

És grande, e por isso adoro-te!

Eu, quando tiver as coisas a caminhar no sentido de estabilidade tambem vou fazer igual.

Há coisas que sao mesmo muito importantes.

És grande, és grande, és grande.

Kiss

Princesa Canela disse...

Ouriço bonito e doce =)

R. disse...

Se o título era longo, a mensagem nem se fala! Longa e boa, tua. :)

Tenho aqui um sininho e ele diz-me que, mais do que contribuir com dinheiro, vais-te envolver na organização da coisa. É que é muito complicado imaginar-te passiva numa acção destas.

A título de informação, uma acção semelhante com que já tive contacto:
http://www.desafiomocambique.com

R.

mf disse...

Jane:
Tu és mais alta que eu e eu é que sou grande? Eh eh
;)

mf disse...

Princesa Canela:
Só Ouriço. :)

mf disse...

R.:
Ai... Nem digas nada, que eu já me lembrei disso... Eh eh

Vou ver o teu link. Beijo! :)

Apple disse...

Querida Piquinhos,

muito me honras com a citação e com o rapinar do estilo introdutório ;)

Brincadeiras à parte, obrigada pelo teu post.

E obrigada por divulgares esta iniciativa.Vou "assuntar" melhor, fiquei interessada...

Beijinho

mf disse...

Apple:
Eu ando, desde os meus tempos de Erasmus, a pensar em 'amadrinhar' alguém assim... Já lá vão uns anos, é um sonho antigo. 'Assunta' aí, que uma criança ajudada é deixar o mundo um pouco melhor.

Então eu roubo e tu agradeces? Ai... Vais-me fazer roubar outra vez! ;)

Beijo!