Sempre fui mulher de sons e música. O silêncio de dentro é compensado pelo som de fora. Gosto de muitos tipos de música, de todas as qualidades. Já me tentaram educar o gosto, mas não me parece que algum dia venham a conseguir, logo agora que ando em fase de não obedecer a ninguém a não ser a mim mesma. Vou do mais clássico ao mais punk, se preciso for, em segundos. Sempre me conheci assim.
Andava eu no secundário (10º ano, talvez?) e um dia em que me encontrava em fase de trautear músicas, uma colega daquelas que vestia só de negro, com correntes e coisas do género, vira-se para mim, embasbacada: "Isso é The Cure!" Ao que eu respondi, placidamente: "Pois é. Pictures of you" (tão só uma das minhas canções predilectas dos ditos cujos). O diálogo teve poucas deixas mais: "Mas tu conheces The Cure?????" "Conheço..."
Pronto. Eu a pensar: "Que cromo..." E ela numa atarantação total. O mesmo que sentiu uma colega já na faculdade, um dia que viemos a pé da cantina até ao departamento: "Não sabia que tu eras capaz de falar assim sobre sexo..." Eu ri-me. Se houvesse tal interjeição na época, provavelmente teria respondido "daaaahhhhhh..."
Esta coisa de se ser particularmente inteligente tem muito que se lhe diga, sobretudo porque somos enfiados dentro de um estereótipo que provoca pasmo quando não seguido cegamente. O pior é que a maioria de nós é incapaz de contrariar a visão colectiva e, quando damos por ela, estamos coarctados numa camisa de forças da qual não nos sabemos escapulir. Até que um dia, por milagre, ou melhor, por vontade própria de nos rebelarmos contra a parvoíce social, decidimos ser o que somos e divertir-nos a ver os outros reagir à nossa verdade mais pura. Num misto de incredulidade e curiosidade pelo mundo desconhecido que trazemos dentro. A última que me aconteceu foi dizerem, a propósito de eu andar no Krav Maga, que era como ver a Branca de Neve a partir os dentes ao Rambo.
Eu divirto-me, a sério que me divirto, a subverter as regras do jogo e a deixar os outros sem pé. Até perceberem que há muito mais de mim para além do que pensam saber de mim, há todo um caminho de riso interior que eu faço. E que neste momento não passa apenas por mostrar um lado mais 'wild'. Pode passar precisamente pelo contrário. É bom sinal, eu diria. Sinal de que começo a entender-me e aceitar-me naquilo que é mais meu.
Eis o fabuloso cover que me lembrou tudo isto:
Katie Melua - Just like Heaven
14 comentários:
"A última que me aconteceu foi dizerem, a propósito de eu andar no Krav Maga, que era como ver a Branca de Neve a partir os dentes ao Rambo."
Eu como Rambo ocasional tenho medo. Muito medo.
Não te vou comentar o conteúdo porque tenho a sorte de te conhecer. Vamos falar de música, esta é uma das versões e atenção que eu gosto muuuuuuuuuito dos Cure e desta música em que não sei de qual versão gosto mais.
De vez em quando passo aqui a espreitar-te (agradece ou bate ao LBJ, depende do ponto de vista), embora nunca tenha deixado um comentário. Mas hoje teve mesmo de ser.
Identifiquei-me com as tuas palavras neste post. Principalmente sobre a subversão das regras e sobre deixar os outros sem saber muito bem o que dizer. Dá-me um gozo tremendo!
Quanto aos The Cure, fazem parte da OST da minha vida.
Como te percebo... ;)
Pulha:
Tem medo. Muito medo. Não vá eu ter uma kalashnikov acoplada à vassoura... Eh eh
LBJ:
Não pus, mas pensei exactamente isso: não sei de qual versão gosto mais.
Quanto ao teres sorte em me conhecer, não digas isso... Não há sortes, há caminhos que se cruzam.
:)
Storyteller:
Bem-vinda! Não vou bater ao LBJ, que ele até se porta bem e de vez em quando traz os seus vizinhos de tasco até à minha toca e eu gosto de receber visitas. ;)
Quanto à subversão de regras: sabe meeeeesmo bem, não sabe? Eh eh
Volta sempre! Beijo para ti
M:
Andamos a perceber-nos bastante bem, não é? ;)
Obrigada pelas boas-vindas!
:)
Arrepiada até à nuca... e não é pelo frio, nem só pela música. Beijo!
Storyteller:
Em minha casa há sempre doces para os amigos. E quem chega de novo recebe a dobrar! :)
Princesa Cheirosa:
;)
Beijo!
Tal como tu, também a mim me acontece isso, como eu digo, sou audiófilo e já ouvi N coisas como "mas tu ouves isso, pareces tão certinho...", independentemente de ser rock, jazz, tecno.
Confesso que não sei os nomes das musicas, mas que tenho uma grande cultura musical, tenho!! (perdoem-me os que me estão a julgar um gabarolas!!)
Pedro:
É mais ou menos o que se passa comigo. :)
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