Revejo-me, hoje, aqui, assim:
"Aprendi a viver sem ti. Ensinaste-me. Aprendi a calar o teu nome e a esbater os traços do teu rosto.
O gosto do teu beijo já não me acorda e o cheiro do teu abraço não me estremece mais.
Aprendi a calar-te dentro de mim e enterrei-te na mesma cova para onde me atiraste.
Aprendi a não sonhar acordada, embalada pelas palavras que me negaste muito antes de me matares fora de ti.
Aprendi a passar por nós sem desejar a vida ou a morte.
Aprendi a caminhar vazia e a pisar descalça os vidros partidos do meu coração como se não sentisse os golpes.
Aprendi a engolir o vómito enquanto me espancavas no silêncio gélido de tudo o que prometeste e negaste.
Aprendi a fingir, como tu, até deixar de me reconhecer no espelho da alma. Deixei de ligar a luz e preferi a escuridão da minha nudez.
Aprendi a fechar-me numa caixa de vidro, onde ninguém entra mas de onde não se sai, numa caixa onde o ar me falta e sufoco, com o mofo das cartas de amor cheias de palavras vivas que morreram, como tudo à minha volta e dentro de mim.
Desolação foi a herança que me ficou depois do amor nos abandonar nesta terra de ninguém onde não há espaço nem tempo para ser feliz, onde a vida é uma farsa bem ensaiada, com falas e gestos marcados, sem o mínimo de arrojo ou liberdade.
Dei-te tudo, até o que ainda não tinha. Dei-te até os anos que não vivi.
Não ficou nada nesta casa que habitaste como um rei e deixaste como um ladrão.
Vazio
Silêncio
Adeus
Luto
Vazio
Silêncio
Perdão
Aprendi a viver sem ti. Sem mágoa nem dor.
Aprendi-me.
Descobri que há vida aqui, para lá da devastação, muito depois da terra queimada pela fúria do adeus.
Procurei o perdão. O meu perdão.
Espero pela redenção do Amor.
Vem… "
Mas eu acho que ainda estou na fase de me perdoar a mim mesma... Por entre esperanças do que tento não esperar ou pedir...
2 comentários:
Também piso devagar o caminho do meu perdão...
Apple:
Pois...
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