sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Desabafo (outro)

Raramente me verão a falar aqui em política. Vou sempre votar porque não deixo ninguém escolher por mim, adoro ler jornais e não perco o telejornal, mas para mim a política fala-se em casa ou à mesa de um café, entre amigos. Hoje, porém, não resisto.
Toda a vida 'nadei' no meio de professores. Já andei pelo Ensino Secundário, safei-me antes destas confusões e não há dia que não agradeça a Deus por ter paz de espírito.
Corta-se-me o coração, por isso, quando vejo a minha família ou os meus amigos a afundarem-se lentamente. Tenho amigos que são professores por vocação. Sempre amaram o que fazem, sempre manifestaram um entusiasmo fora de série. Vê-los hoje desabafar que, se pudessem, arranjavam outra profissão, deixa-me zangada.
Como me deixam zangada as histórias, inúmeras, que vou coleccionando. Como a do menino de 4 anos que, ao domingo à noite não quer ir dormir e pede à mãe para fingirem que é sexta-feira, porque sabe que estará separado dela quase 200 quilómetros até essa altura (o que faz uma mãe 3 anos seguidos assim?).
Ou a outra da minha colega que levou testes para corrigir no comboio, em dia de manifestação, porque não podia 'perder' uma tarde de fim-de-semana senão o trabalho ainda se atrasava mais.
E ainda outra, onde me dizem 'Não me sinto livre... Na escola não posso dizer o que penso porque posso sofrer represálias. E quando chego a casa, não tenho tempo para respirar, com tanta papelada. Preparo as aulas às duas da manhã...'
Ou outra, que é feita de alunos indiciados pela polícia e navalhas na sala de aula.
E outra ainda, de uma amiga que desabafa que está com problemas no casamento porque o marido não entende que ela, quando chega a casa, tem de se sentar a trabalhar, porque senão não tem os dossiês da avaliação e a preparação das aulas e os testes e as correcções dos testes e etcs prontos a tempo.
Mas a que mais me zanga é a da minha sobrinha que, na fortaleza e sabedoria dos seus quase cinco anitos, consola a minha irmã, que lhe diz que não pode trazer os amigos a casa no fim-de-semana porque a mamã tem de trabalhar. O consolo? 'Deixa lá mamã... Não há problema... Quando tu tiveres tempo para nós outra vez, não é?'
Não é justo...

Eu, que nasci em vésperas da Revolução dos Cravos, bem sei onde punha uns certos senhores com tiques de ditadura...

1 comentário:

John Doe disse...

Dá-lhe, até ficarem com as orelhas a arder....

Proponho a formação de um governo sombra....