quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Recado (III)

Não me Peçam Razões...

Não me peçam razões, que não as tenho,
Ou darei quantas queiram: bem sabemos
Que razões são palavras, todas nascem
Da mansa hipocrisia que aprendemos.

Não me peçam razões por que se entenda
A força de maré que me enche o peito,
Este estar mal no mundo e nesta lei:
Não fiz a lei e o mundo não aceito.

Não me peçam razões, ou que as desculpe,
Deste modo de amar e destruir:
Quando a noite é de mais é que amanhece
A cor de primavera que há-de vir.

José Saramago, in "Os Poemas Possíveis"

2 comentários:

John Doe disse...

Costumo dizer que "há razões que a própria razão desconhece".

Há razões que não tenho, há razões que procuro. Há razões que já me cansei de procurar.

mf disse...

Continua... Algum dia hás-de chegar lá... ;)