A ida a Lisboa transformou alguma coisa cá dentro. Ainda está tudo um pouco indefinido, mas às vezes escrever ajuda-nos a ordenar os pensamentos.
Pôr um ponto final no ex não teve por finalidade insultar ou acusar ninguém do que quer que fosse. Há coisas que eu simplesmente não consigo fazer, mesmo se cá dentro uma vozinha grita. Mas não deixei de dizer umas verdades a quem precisava de as ter ouvido há muito tempo. Era necessário para que os meus medos acalmassem e eu pudesse seguir em frente sem fantasmas pendurados nos picos (fantasma pesa muito, trava o passo). Medo de quê? De o ver e me deixar ir por aí abaixo outra vez, presa num encantamento que só me fez mal. E de ficar na merda outra vez, a seguir. Eu sabia que corria esse risco.
Há uns tempos atrás, num encontro nacional onde estive, pareceu-me vê-lo e fiquei num estado de agitação muito grande. Porque senti o meu espaço de sossego invadido. Afinal não era ele, mas as duas semanas seguintes não foram nada fáceis. Voltaram os sentimentos de descrença, o sofrimento, a solidão. É como se tivesse renascido todo um passado que há muito procurava enterrar. Foi nessa altura que me convenci de que precisava mesmo de o ver. Corresse os riscos que corresse, tinha de acabar com a insegurança que me roía. E pronto, aconteceu.
Saí muito bem desse encontro. A sentir a liberdade que achava que ia sentir, mais vazia de fantasmas, mais cheia de mim, que não me deixei enrolar em cantigas de espécie nenhuma quando vi à minha frente tudo aquilo que eu não queria.
Foi um bom dia, esse, mas deixou-me uma sensação de estranheza que ainda não consegui perceber bem. É como se me tivesse libertado de mais amarras do que as que estava à espera. Dou por mim a pensar, com alguma frequência, e desde essa altura, que estou bem assim, sozinha. Que posso fazer o que quero, como quero e com quem quero sem ter um gajo à perna que, a qualquer momento, se pode passar da cabeça e fazer-me passar a mim. É um sentimento meio indefinido, ainda, mas que se começa a traduzir num conforto na minha casa, que não é mais do que a minha própria pele. É como se a minha cabeça e o meu coração estivessem a entrar em sintonia, concordando que é altura de eu me sentir em paz dentro de mim. E que é melhor, por agora, sentir essa paz solitária, em vez de abarcar algum nos meus braços. Primeiro eu, na totalidade de mim mesma. Para depois, e só depois, e eventualmente, poder receber o que a vida me der. Sem stress, sem fugas, sem fantasmas.
12 comentários:
mf, como te entendo e como gostaria de poder fazer o mesmo. Fiz por uns tempos, em que pensei que tinha arrumadoo assunto, e cheguei a sentir-me feliz, bem comigo, na minha pele. Mas afinal, quando chegou o reencontro, para mim, rever foi um miserável reviver. É fundamental dar esse passo apenas, só apenas, quando temos a força suficiente para "não caír nas cantigas", não nos afundarmos com o peso dos fantasmas. Quando se ama, é fácil enganarmo-nos, é tão tentador acreditar... Mas soube-me muito bem vir aqui à tua toca e reencontrar nas tuas palavras o fio do que já soube pensar e viver antes. Identifico-me totalmente em especial coma a tua última frase.
Princesa:
Pois foi precisamente para não cair em malhas antigas que o passo só foi dado há poucos dias, apesar de tudo estar terminado há muitíssimo mais tempo. Eu já sabia que estava diferente, não sabia era quanto. E sabia que era provável que doesse muito pouco, o que veio, de facto, a acontecer. Eu sou muito lenta e duvido de mim mesma, mas, quando decido e assumo, nada me faz voltar atrás.
Já me aconteceu antes, voltou a acontecer agora. Com a vantagem de ter conseguido impor-me aos meus medos. Acho que acrescentei uns centímetros ao meu metro e 57...
Eh eh
Tu lá chegarás. Há caminhos mais vagarosos do que outros, o importante é não desistir...
Pois, a nossa grandeza não se mede em centímetros... :)
Também sou muito vagarosa nestas coisas. Custa muito pôr à vista clara da lógica do pensamento os sentimentos que são muito profundos. E depois esses sentimentos às vezes são tão fortes que nos rebentam por completo, explodem-nos as lógicas e desfazem-nos a determinação.
Tens a sorte de poder escolher o momento do reencontro. Eu posso não o procurar, mas dificilmente o posso evitar. Sei que cada vez que o vejo é uma prova de fogo, mas tens razão - hei-de lá chegar. Tenho esperança de que seja mais fácil um bocadinho de cada vez. :)
Pode nao ser facil dizer nao contra nos mesmos, mas é necessario para " Primeiro eu, na totalidade de mim mesma. Para depois, e só depois, e eventualmente, poder receber o que a vida me der. Sem stress, sem fugas, sem fantasmas".
A isto chama-se inteligencia emocional, assertividade.
Princesa:
Vai ser, com certeza, mais fácil. A tua cabeça precisa é de entender que tu és bem mais bonita do que pensas... :)
Daniel:
Não é fácil, mas chega-se lá... :)
Não te conheço, não sei o teu nome, nunca te vi. Estranhas afinidades, ou talvez não, se vão descobrindo pelas palavras que cada um permite chegarem aos outros. Isto para dizer que estou a sentir um enorme orgulho de ti, realmente contente por te ler liberta. Que vontade de te abraçar, cheia de certeza que os teus picos são suaves! Viva o pequeno ouriço! =)
Ventania:
Essa do orgulho deixou-me sem jeito... Não estou habituada, mas vá... Sabe-me bem... :)
E sabes... Mesmo não nos conhecendo, já nos conhecemos. Um dia virá um abraço. Apertadinho. Daqueles de despentear o cabelo (ou não fosses tu prima do vento daqui...).
;)
Tive em tempos um momento assim... Um momento em que o chão me fugiu debaixo dos pés e em que tive que me voltar a encontrar. Tive medo, sobretudo, de haverem coisas que sozinha não ia conseguir fazer... Posso apenas dizer-te que, apesar de ter sido a situação mais complicada que vivi até hoje... Foi o melhor que me podia ter acontecido. Agora sou mais eu, mais na minha pele... E, acima de tudo, mais feliz.
M:
Eu gosto de ver que há quem tenha dado a volta por cima como eu estou a tentar dar. Ajuda-me a ter esperança, percebes? Fico muito contente por ti. E espero lá chegar um dia. :)
Chegas... Chegamos sempre, com mais ou menos tempo e esforço... E ficamos mais fortes ;)
M:
Tu entendes-me. E dás-me força, com essa tua esperança. :)
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